Amanhã vai
fazer um mês que eu deixei Belgrano. Parecia impossível, mas sim, ele me deixou
ir – ainda que não pra muito longe. Agora vivo em Colegiales, um bairro um
pouco menos metido a besta, colado ao meu antigo. Aqui não tem barulho de trem.
Não tem barulho de nada, na verdade. Nem de carro, nem de passarinho, porque é
um apartamento interno. Isso quer dizer que se eu abro a janela do quarto verei
apenas outras janelas. Se abro a da cozinha, idem. E se abro o “balcón francés”
da sala dou com os olhos em uma parede branca. Mas eu não tô reclamando. Não
mesmo.
Em meu novo
apartamento eu levo exatos quatro minutos para chegar ao trabalho. Uns 5 para
pagar uma conta de luz. Uns 10 para comprar cerveja gelada, salsichas,
chocolate ou detergente. Uns 12 para comprar morangos, bananas ou brócolis. Uns
15 para comprar descongestionante nasal. Eu posso não ter uma boa vista, mas minha
vida se tornou um pouco mais fácil. Embora não sem antes ter sido bastante
difícil.
Depois da experiência
de morar em três apartamentos diferentes em oito meses nesta cidade, só digo
uma coisa: conseguir um lugar minimamente decente para viver em Buenos Aires é
mais difícil que conseguir um emprego nas mesmas condições.
Para alugar
um apartamento que não seja temporário, você basicamente precisa deixar todos
os seus órgãos como garantia. Todos. Isso depois de apresentar o contracheque –
meu e do boy, que agora é meu roomate – e a escritura de uma casa. Na capital.
Se não for na capital, a casa tem que ser de familiar direto. Mas mesmo sendo
de familiar direto, tem que ser ao menos na província de Buenos Aires. Às vezes
te pedem duas propriedades como garantia e não apenas uma. Às vezes te pedem
que o fiador – o dono da casa – tenha o mesmo sobrenome. E se depois de tudo
isso a imobiliária ainda achar que você pode não pagar o aluguel, te pedem
outro fiador, que não precisa ter uma casa, mas que tenha um bom contracheque.
Sem isso, nada feito. E às vezes com TUDO isso, nada feito também. Sim, porque
se aparece alguém que tenha o salario mais alto que o teu, já era.
Procuramos
apartamento por quase dois meses, visitamos aproximadamente 20, nos
interessamos verdadeiramente por cinco. Só conseguimos um porque ninguém com
mais dinheiro teve interesse nos dias seguintes a nossa visita. Ou seja, além
de tudo é preciso ainda ter sorte. Puta que pariu.
A boa
noticia é que se tudo seguir bem não vou ter que me preocupar com isso pelos próximos
dois anos – porque com o fim desse maldito contrato o plano é ter ao menos uma
vista ao abrir a janela.
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