quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Natal punk*

Muito melhor que o papai Noel. Quem aquelas centenas (milhares?) de pessoas estranhas esperavam dia 25 de dezembro no Groove, no bairro de Palermo, era o não tão velhinho assim Carlos Rodríguez. Ou Il Carlo, Nekro, Boom Boom Kid, como queiram. O velho punk argentino que poderia encher estádios de futebol se quisesse, me fez rir daquilo que eu considerava um show de hardcore na minha adolescência.
Me posicionei devidamente no segundo piso do lugar, porque não sou boba nem nada, prezo pela minha saúde física e já sei bem do que é capaz o público argentino, especialmente se tem um maluco no palco sacudindo seus dreads descoloridos com a barriga de fora.
Sabe a roda punk? Pois então, isso praticamente não existe no show do Boom Boom Kid na capital dos argentinos. Toda a plateia é uma imensa roda punk, que não é exatamente uma roda, já que ninguém se dá ao trabalho de abrir espaço para que apenas meia dúzia de doidos comecem a dar coices uns nos outros. Sim, porque absolutamente todos ali são assim e fazem o mesmo. Todos. As moças só de sutiã e o rapazes gordinhos também.  
Antes de se tornar conhecido no submundo da música de muitos países, Nekro era só um pibe da província de Buenos Aires que em 1989 montou uma banda que o transformou no grande ídolo punk-controverso da Argentina, a Fun People. Hoje é difícil encontrar alguma lista de melhores discos de rock argentino de todos os tempos sem que ali tenha algum do Fun People, ou do próprio Bom Boom Kid, projeto criado por Il Carlo em 2001. Até hoje não se sabe bem se Boom Boom Kid é a banda ou se Boom Boom Kid é Nekro – que já não é mais chamado de Nekro. Então pelas duvidas Boom Boom Kid é o próprio Carlos Rodriguez e é a banda também. Tá tudo certo.
No palco, entretanto, fica meio óbvia a ideia de quem é BBK: os outros três músicos vestem a mesma camisa preta com detalhes em branco e se comportam como rapazinhos caretas ao lado da grande estrela que não para de se mover ao centro de tudo. Uma espécie mais desengonçada e menos sexy de Iggy Pop argento.
E com todos esses nomes que ninguém mais sabe como chamá-lo, vêm também personalidades distintas, claro. Nekro era o vocalista do Fun People, Il Carlo canta boleros, Boom Boom Kid é Boom Boom Kid. Carlos Rodriguez deve ser aquele que nasceu na cidade bonaerense de Campana. 
Como Nekro em Fun People e principalmente como BBK, ele já tocou varias vezes no Brasil, inclusive em Blumenau, Floripa e Balneário Camboriú. Lástima que só pude vê-lo depois de velha, no maior estilo “assistindo aos outros se divertirem”. Porém feliz por sair com todos os ossos inteiros depois de duas horas de show, em uma vibe Ramones de juntar uma música na outra, falar pouco e ainda assim ser foda pra caralho.
Apesar de não tocar tanto na capital quanto se espera, justo na entrada de seu show natalino entregavam convites para o aniversario de 45 anos de BBK no próximo dia 13, dessa vez no Niceto Club, pelos mesmos 100 ínfimos pesos. Nem uma banda com três anos de existência e dois mil seguidores no Spotify faz show com ingressos tão baratos por aqui. Se eu fosse jovem ia de novo.

*Esse texto era para ter sido originalmente publicado no Válvula Rock.  

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