quinta-feira, 22 de março de 2018

Sobre amar música e odiar shows


Quando ouvi o Steven Wilson dizer em uma entrevista que não gosta de ir a shows, senti seu abraço quentinho. Eu tento colocar a culpa em tudo para não ver ao vivo uma banda que quero muito ver ao vivo: no público, que é um saco (e é um saco ainda maior na Argentina), no preço, na data, no lugar, no clima. Perdi Arcade Fire porque era a única banda que eu queria ver em um festival caríssimo, perdi Phoenix porque foi no fim de semana que meus pais estavam aqui, perdi Queens of the Stone Age por medo de ser pisoteada até a morte. Em geral não é algo que fico pensando muito. Não fui e pronto.
Acho todo o processo de ir a shows uma reverenda tortura. Desde o momento em que abrem as vendas e você precisa ser muito rápido, porque os ingressos podem terminar em poucas horas. Você fica ali aflito na “fila virtual” (a primeira de tantas), e pode ou não ter êxito em sua compra. Se consegue, depois tem que ir buscar a entrada, dependendo do lugar e do dia, ali se encontra a segunda fila.
Mas nem se compara com a fila para entrar no show, seis meses depois. E a partir daí, bom… você só vai parar de sofrer dali a uns dois dias. Se você conseguir um lugar bem na frente porque chegou cedo, vai perdê-lo em breve porque pessoas que chegaram 10 minutos antes de começar vão roubá-lo de você. Ou vão te chutar e te empurrar e despejar cerveja na sua cabeça até sua paciência esgotar, e aí você vai para trás, onde é mais tranquilo, ainda que não dê para ver nada. Ali você apenas escuta o show que você pagou 20% do seu salário para ver.
E as pessoas vão passando “com licença, com licença” com dois copos de Quilmes nas mãos, porque é mais barato comprar logo dois. E como elas são idiotas de qualquer modo, não se importam em tomar o segundo copo já quente e pela metade (porque a outra parte foi derramada enquanto tentavam caminhar no meio do público).
Como não fui a muitos shows, nem na Argentina e nem no Brasil, aprendi com as pessoas daqui que “é assim mesmo”. Show grande é assim mesmo. Você vai para sofrer e é normal não conseguir ver a banda no palco por mais de 15 minutos (no total). “É assim mesmo”, dizem. Te empurram de uma extremidade a outra, te chutam, te molham com cerveja, roubam seu celular, puxam sua roupa e seu cabelo. No outro dia você tem hematomas, dores musculares e uma camiseta que agora só serve para dormir.
Até que tem sentido amar música e odiar shows. 

PS. Este texto foi escrito enquanto me recupero das dores do show do LCD Soundsystem, que tirando a parte ruim, foi maravilhoso.
PS 2. É tudo muito irônico, eu sei, mas o próximo show que irei é justamente do Steven Wilson.

Nenhum comentário:

Postar um comentário