sexta-feira, 27 de abril de 2018

Um pé no Pacífico - Uma semana no Chile pt.1

Depois de quase três anos morando em Buenos Aires eu meio que já absorvi a cultura local e comecei a sentir falta de ver coisas novas. "Ah, vai se mudar para outro país", diria você.
Mas não. Daqui ninguém me tira.
Tudo o que fiz foi comprar passagens para o Chile. De ida e volta. Com um intervalo de sete dias entre a ida e a volta. E assim foram as minhas férias.
Os argentinos em geral têm pouca ou nenhuma vontade de conhecer o Chile e não vão muito com a cara dos chilenos por questões históricas e também "porque sim". Porém, como brasileira, sempre quis visitar o país. Era um plano que eu tinha desde que cheguei a Buenos Aires, em 2015, e só agora pude concretizar. Meu cônjuge argentino certamente só não reclamou mais da escolha do nosso destino porque assim ao menos poderia falar mal dos chilenos com mais propriedade.
Decidimos passar dois dias em Viña del Mar (que incluía uma visita a Valparaíso) e cinco em Santiago. Dito isso, vamos à primeira constatação: cinco dias em Santiago é um exagero, não façam isso. Tínhamos uma lista não muito extensa de lugares que queríamos ir e sinceramente podíamos ter feito tudo em três dias. Talvez quatro. A segunda constatação é a diferença gritante entre os preços do litoral e da capital. Santiago é cara até para os padrões porteños a que estou acostumada, o que significa que a Juliete do futuro viverá momentos de tensão ao pagar a fatura do cartão de crédito. Mas deixemos os problemas do mês que vem para o mês que vem.
Apesar de o remis (uma espécie de táxi executivo sem nenhum luxo) que contratamos nos ter dado oito tipos diferentes de dor de barriga no longo trajeto até o aeroporto (o motorista era brasileiro, falava o pior espanhol que ouvi na minha vida, não sabia como pegar a estrada a partir do meu bairro, não tinha créditos no celular para consultar o GPS, perdia todos os desvíos para fugir de um protesto que trancou a autopista e quase derreteu um dos pneus em uma fogueira acesa em um cruzamento), depois tudo acabou saindo bastante bem.
Chegamos a tempo em Ezeiza, o voo decolou e aterrissou no horário previsto, e ao colocar os pés em Santiago não tivemos qualquer dificuldade em chegar ao nosso primeiro destino, que era Viña del Mar. A verdade é que quando finalmente deixamos nossas coisas no quarto do hostel, no começo da tarde, estávamos um pouco desconfiados. Não estamos acostumados a que as coisas efetivamente funcionem. Mas era tudo real. Verdade verdadeira. 

Viña del Mar
Viña del Mar é relativamente pequena e nessa época do ano não há muito o que fazer por ali, menos ainda numa segunda-feira, então começamos a caminhar meio sem rumo, passamos por dois museus que estavam fechados, e finalmente chegamos à praia onde vimos o mar do Pacífico pela primeira vez. Tudo muito lindo, mas nem se compara ao litoral brasileiro. À noite jantamos num Mexicano e no dia seguinte pegamos um ônibus até Valparaíso, que não poderia ser mais diferente de Viña del Mar. A cidade é até um pouco hostil no começo, mas confesso que gostei da atmosfera decadente, colorida e desordenada do lugar. Na parte plana quase todas as ruas tem cheiro de mijo, principalmente perto do porto, mas quanto mais próximo dos morros, onde mora quase todo mundo, melhor vai ficando.

Descida do cerro em Valparaíso
Para acessar os cerros da pra pegar um elevador pago ou exercitar os glúteos nas escadas e rampas. A vista de cima vai compensar o esforço anyway. No topo do morro tem de tudo: casas caindo aos pedaços, casas enormes, casas novas, igrejas, edifícios, cafés, fortes, museus, supermercados, restaurantes,  hostels, e dependendo do cerro tem também umas feirinhas com toda a classe de souvenirs para turistas.

Porto de Valparaíso
Para almoçar, decidimos descer para a parte plana e mais afastada do porto onde fomos disputados a tapas pelos restaurantes que caçavam turistas com um desespero admirável. Nos ganhou um que cobrava um valor fixo e razoável por uma entrada (ceviche), prato principal (peixe) e sobremesa (uma gelatina horrorosa). Depois de comer, voltamos ao aconchego de Viña del Mar e fomos a lugares que não visitamos no dia anterior. Antes das seis já estávamos de volta ao hostel, esperando ansiosamente para finalmente ir a Santiago. O que ocorreria só no dia seguinte e é história para outro texto.

Clique para ler a parte 2.

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